O que define o preço de uma moto?

Como foi falado no primeiro post deste blog, O mito do 4 cilindros, muitas pessoas acreditam que o número de cilindros é o principal fator que influência no valor final de uma motocicleta, quando vão comparar algum modelo, acabam por dizer quase sempre que a que possui menos cilindros deve ser a moto mais barata.

Eu apenas fui contra a essa afirmação, e fiz um comparativo entre 2 motos, mas não expliquei exatamente o que faz o valor de uma moto ser mais alto. Acredito eu que o que vou falar aqui pode ser aplicado para diversos outros produtos, mas como o foco aqui é moto, é delas que eu vou falar.

Neste contesto de valores, existem 3 tipos de motocicletas, as populares, as premiums e as de nicho. Cada um destes tipos tem planejamento e objetivos diferentes, e é isso que muda o preço de cada uma.

Nas motos populares, o maior investimento fica por conta do projeto, trabalha-se uma maneira de ter a construção mais barata que atenda os níveis mínimos de qualidade do fabricante, e que consiga o maior número de pessoas interessadas, para que o custo do projeto possa ser diluído no volume de vendas e com isso a moto apresenta um baixo valor de venda.

É comum neste segmento o "requentamento" de tecnologias já utilizadas por outras motos que já foram premium, ou de outro estilo. Como exemplo a XJ6, que utiliza uma versão "amansada" do motor da FZ6, que por sua vez já era amansado da R6. A linha 500 honda, que possui 3 motos com o mesmo motor e diversas outras peças semelhantes entre si. A NC750, que utiliza meio motor de FIT, a ER6 da kawasaki, que compartilha motor com a Versys e com a nova Vulcan (todas 650cm³).

Honda NC750X
Essa manobra reduz os custos de produção, e também podemos notar economia nos materiais (predominante uso de aço), e baixa tecnologia em diversos quesitos como freios (2 pistões, discos simples, não flutuantes) suspensões (convencionais, não invertidas), falta de mapas de injeção, controle de tração, etc.

Em modelos menores, a adoção de produção centralizada e montagem em outros países por método de CKD torna-se uma boa alternativa baixar os custos, assim como a KTM adotou a índia para a produção de sua série popular Duke (125, 200 e 390), e a Kawasaki produz na Tailândia as peças para a Ninja 300 e Z300.

Kawasaki Z300
A economia de materiais, tecnologia chega ao seu maior ponto nas motos de pequena cilindrada, não que não exista motos premium de baixa cilindrada, mas esta categoria é a mais explorada no quesito baixo custo. Nela podemos ver as 125, 150, 250 e até 400 do mercado brasileiro. Elas são peladas em muitos aspectos, tais como motores refrigerados a ar, quadros apenas de berço simples ou duplo, algumas de aço estampado, suspensões duplas na traseira, freios a tambor, pneus diagonais, e neste caso sim, o motor de 1 cilindro é escolhido por ser o mais barato para se fabricar, pois é o que necessita de menos materiais na sua construção.

Honda Fan 150

Como podemos ver, as motos populares não são apenas as CGs da vida, existe moto "grande" popular, mesmo tendo o maior tamanho, elas ainda se baseiam na quantidade de venda, pretendem atingir o maior leque de consumidores, e estão lá, brigando por suas posições entre as mais vendidas do segmento.

Agora se tratando das premiums, elas não se distanciam muito das populares, ainda usam projetos conservadores, receitas já consagradas, é moto de gosto popular construída com maior requinte. Existe inovações, mas ainda limitadas. A foco deste segmento é a adoção de materiais mais nobres, e maior herança de tecnologia. Ficando bem comum o uso de quadros de liga de alumínio, cromomolibdênio, suspensões invertidas de marcas conceituadas e de fácil regulagem, freios também de marcas conceituadas, maior eletrônica embargada

Pouco se cria especificamente para este segmento, mas não raramente ela herda tecnologias de ponta existente em outros mercados. Entre suas características, estão presentes alguns mimos, como controle de tração, sensor de pressão de pneus, computador de bordo, diferentes mapas de injeção, acelerador eletrônico com respostas diferentes e selecionáveis, aquecimento de manoplas (para regiões frias), acessórios oficiais, dentre outros.

O custo de uma moto premium é maior justamente pelos materiais e tecnologias adotados, um volume de vendas menor também faz com que os custos do projeto seja diluído em menos compradores, aumentando um pouco o valor de compra de um modelo destes, mas ainda nada que seja exorbitante.

Geralmente este segmento começa nas motos de média cilindrada, mas ultimamente parece estar migrando apenas para as de alta. Antigamente existia a Hornet, Fazer 600 no início da tabela, mas ambas saíram de linha, sobrando apenas a Street Triple R como premium ali, nas médias. Em altas cilindradas podemos falar da MT09, CB1000, Speed Triple, GSR1000, Z1000 e Z800. Isso nas nakeds, e ainda tem motos de outros estilos, trails, big trails, etc., mas o post já está ficando grande e ainda tem coisa pra falar, falo delas em futuramente.

Yamaha MT09
Agora as motos de nicho é o mais complicado a se explicar, pois elas não obedecem exatamente uma regra, as vezes elas podem vir cheias de tecnologias, as vezes cheias de materiais nobres, e por vezes pode vir sem nenhum destes. Elas são motos de pouca produção, que visam mercados específicos, pessoas diferentes, usos diferentes, e como o número de vendas é baixo, o comprador arca com boa parte do valor de desenvolvimento, e isso gera um alto valor final do produto.

O nicho mais popular (meio contraditório né?) são as Super Esportivas, nelas a briga é grande pela melhor tecnologia, muitos estudos são feitos a procura da melhor ciclística, do melhor freio, do melhor controle de tração, chega a se usar materiais muito nobres, como bielas e válvulas em titânio, carenagens de fibra de carbono, e todo um mundo de tecnologias novas, que depois de pagos os custos de desenvolvimento, costumam ir para os modelos premium. Como exemplo tem a Kawasaki H2, praticamente toda a linha MV Agusta, Ducati Panigale, etc.

Ducati Panigale

Mas as vezes, uma moto de nicho não carrega tanta coisa assim, ela apenas é diferenciada do que normalmente é oferecido, como atende raríssimas pessoas, essas baixas vendas tem que cobrir todo o custo de um maquinário dedicado para sua produção, e isso eleva consideravelmente seu preço. Isso acontece com a Duke 690 (KTM), Teneré 660, Triumph Rocket, Yamaha V-Max, algumas outras customs, e uma imensidão de motos "exóticas". Praticamente, toda moto absurdamente cara é uma moto de nicho.

Yamaha V-Max

Em cada um dos segmentos que foram citados, existem os mais variados tipos de construção de motor, os mais variados materiais e também de tecnologias usadas, sendo o que mais influência no valor da moto, uma mistura de fatores relacionados ao custo de projeto, custo de produção, e volume de venda.

Então agora, vê se para de falar que a moto de 4 cilindros é mais cara que as de 2! hahaha

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