O que muda com os cilindros?

E lá vamos nós para mais um post técnico, o último desta série sobre cilindros e cilindradas. Como já vimos no post anterior, uma hora torna-se inviável utilizar apenas 1 cilindro para se extrair força de um motor.
Mas quais características mudam quando é usado mais de 1 cilindro?


Novamente, devo deixar claro que além do que eu vou falar neste post, existem outras maneiras de mudar o comportamento de um motor, tais como mudança nos ângulos do girabrequim, motores em V, curso e diâmetro do cilindro (visto anteriormente), dentre outros. Por estes motivos, o ensinado neste post é apenas uma regra básica, aplicada para um motor em linha com a explosão do cilindros nos ângulos exatos relacionados aos 720º (2 giros do girabrequim) divididos pela quantidade de cilindros existentes no motor e com mesma proporção diâmetro/curso dos cilindros.

Para ficar mais fácil exemplificar as características, vamos usar dados fictícios de um mesmo motor de 600cm³ para cada configuração de motor. A cilindrada de um motor é dividida entre a quantidade de cilindros que ele possuí, e cada cilindro fica apenas com a fração que ele representa, ficando assim a moto de 1 cilindro com único de 600cm³, a com 2 cilindros possuindo 300cm³ cada um deles, 3 cilindros representando 200cm³ em cada, e 4 cilindros com 150cm³ a unidade.

Proporcionalmente falando, é como imagem abaixo:


No final de 1 ciclo (2 voltas do girabrequim), cada motor admitiu, comprimiu, explodiu e expulsou a mesma quantidade de ar/combustível mas com grande diferença do modo em cada um deles.

No motor de 1 cilindro, embora seja apenas um, o cilindro é o maior do comparativo com todos os 600cm³ em um único cilindro, e ele executa a explosão de todo esse ar/combustível uma única vez a cada 2 voltas do girabrequim, isso é, a explosão é mais forte e em menor quantidade, mas cada uma de suas explosões é capaz de movimentar maior massa, tendo em conta que a biela e curso do girabrequim também é maior que os demais, e isto faz com que o motor de 1 cilindro, principalmente em giros baixos consiga maior torque. Em sua desvantagem conta que o pistão nesta configuração é mais pesado, e lembra de quando falei no post do por que usar mais cilindros, essa massa maior do pistão gera maior vibração, e a inexistente distribuição de peso faz com que não se consiga alcançar giros muito altos nesta configuração, dificultando a extração de potência do mesmo.

O motor com 2 cilindros, divide essa massa do pistão por 2 ficando 300cm³ cada, e é ligado no girabrequim em 2 pontos, distribuindo melhor o peso, e sofrendo menor vibração pela soma destes 2 motivos (menor massa e melhor distribuição). A cada 2 voltas de girabrequim efetua 2 explosões que contem um pouco menos da metade da força do motor de 1 cilindro, pois como tem biela e curso do girabrequim menor ele vai transmitir menos força ao centro do girabrequim. Explosões mais fracas em giro baixo diminui o seu torque nestes giros, e faz com que o pico de torque apareça em rotações mais altas, e a menor vibração resultante de sua construção ajuda a elevar o giro máximo do motor, conseguindo extrair mais potência do que um motor de mesma cilindrada que tenha pistão.

Se você já entendeu quais foram os ganhos e percas do motor de 2 cilindros em relação ao 1 cilindro, já consegue imaginar o que vai acontecer com o motor de 3 cilindros.
Caso não tenha intendido, vou explicar o que acontece neste caso. Caso já tenha entendido, pode pular para os últimos parágrafos. ;-)

Já o motor de 3 cilindros, tendo 200cm³ cada pistão efetua uma explosão mais fraca ainda, e executando esta explosão 3 vezes a cada duas voltas do girabrequim, uma a cada 240º, e como já vimos, explosões fracas e bielas e curso de girabrequim menores causam pouca força, e dificulta extrair torque nos giros mais baixos, e aparecendo o pico de torque do motor em giros ainda maiores relacionados ao motor de 2 ou 1 cilindros. Porém com cada pistão de menor peso ainda, e com a melhor distribuição deste peso (ligado em 3 pontos do girabrequim), quando comparado aos anteriores, novamente torna possível que este motor alcance rotações ainda mais altas, e aumentando ainda mais a facilidade de se extrair maior potência nestes giros.

Acredito eu, que explicar o que acontece no motor de 4 cilindros é desnecessário, caso precise, pergunte nos comentários que eu tento uma outra abordagem de explicação.

Podemos concluir, a grosso modo, que quanto menos pistões (lembre se, mesma cilindrada e mesma proporção diâmetro/curso) mais fácil é extrair torque nos giros mais baixos e mais difícil alcançar giros mais altos do motor, e conforme a quantidade de cilindros aumenta vai se tornando menor o torque nos giros mais baixos, o pico de torque passa a aparecer em giros mais altos, o motor vai ganhando capacidade de aumentar a velocidade do giro, e com essa maior velocidade de giro torna-se mais fácil extrair maior potência do mesmo.

Para expressar bem estas diferenças, deixarei a seguir imagem e alguns dados de 4 motos de mesma classe, cilindrada semelhante porém com as diferenças na quantidade de cilindros. (ficarei devendo o torque nos baixos giros por falta de mapas com curva de torque das mesmas, caso eu consiga atualizo o post).

Duke 690: 690cm³, 1 Cilindro, 68HP a 7500rmp - 6.9kgf/m a 6550rpm (torque), 160kg em ordem de marcha.

ER6N: 650cm³, 2 Cilindros, 72HP a 8500rpm - 6.6kgf/m a 7000rpm (torque), 196kg em ordem de marcha.

Street Triple: 675cm³, 3 cilindros, 105HP a 11700rpm - 6.9kgf/m a 9100rpm (torque), 184kg em ordem de marcha.
Hornet: 600cm³, 4 cilindros, 102HP a 12000rpm - 6.5kgf/m a 10500rpm (torque), 195kg em ordem de marcha.

A hornet fugiu um pouco da regra, possuindo menor potência que a Street triple, pois a mesma também tem menor cilindrada.

Espero que gostem, e até o próximo post!

2 comentários:

  1. Olá! Muito bom o post e o blog, parabéns! Quanto ao post, faço apenas uma ressalva. O desenho esquemático dos cilindros, a meu ver, não é adequado didaticamente falando, pois o tamanho dos cilindros não está na mesma escala, dando uma ideia errada desse tamanho para quem não tem um olho mais "clínico". Para quem tem mais familiaridade com o tema, percebe-se o erro de escala intuitivamente. Fazendo contas, chega-se à conclusão, por exemplo, que o volume da câmara 1 equivale a 8 volumes da câmara seguinte (relação de 1 para 8), ao passo que desenho dá ideia de que essa relação é de 1 para 2.
    Mais uma vez, parabéns pelo excelente blog!
    Att,
    Silvan
    Silvan

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  2. Neste caso, fiz uma redução "quadrada", quando o necessário para manter a proporção correta do problema seria uma redução "cúbica". De certa forma, realmente proposital, para expressar uma maior diferença visível ao problema.

    Assim como já fui corrigido (também) por outro leitor (porém em facebook), o tamanho das bielas não necessariamente tem ligação com o comportamento do pistão, já que o curso é ditado pelo girabrequim, e a biela só transforma o movimento (embora traga outras questões comportamentais no motor), porém citei ela por ter tratado todo o conjunto de maneira escalonada.

    Muito obrigado pelo comentário e por ter enriquecido o post, e seja sempre bem vindo ao blog!

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